Breve resumo de heresias católicas - Parte 2




A doutrina da transubstanciação dos elementos da Ceia tem por base o texto de João 6, que, para começo de conversa, não é eucarístico, mas soteriológico. O sentido figurado era de "comer a carne do Filho do homem" (Jo.6:54), enquanto que o significado literal era "crer em mim [Jesus]" (Jo.6:35). O fato de Jesus ter dito que a sua carne era "verdadeira" comida não torna o texto mais literal, visto que o próprio Cristo afirmou que era a "videira verdadeira" (Jo.15:1), e nem por isso ele se tornou uma videira literal. 

Além disso, o contexto imediato indica que as palavras de Cristo não deviam ser tomadas em sentido físico, mas espiritual – "as minhas palavras são espírito e vida" (Jo.6:63). Portanto, o fato de Jesus ter dito que o pão era o seu corpo não significa que o pão era literalmente o corpo de Cristo, da mesma forma que o fato dele ter dito que era a porta (Jo.10:9) não o torna um pedaço de madeira com maçaneta, nem o fato dele ter dito que era uma verdadeira videira (Jo.15:1) o transforma numa árvore.  

São expressões igualmente figuradas, alegóricas. Em termos literais, Jesus não poderia dar o seu sangue para ser bebido literalmente, pois os próprios apóstolos proibiram o consumo de sangue humano (At.15:29). Em termos literais, Jesus não desce fisicamente dos céus para se transformar em um pedaço do pão, pois é nos dito que "convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo" (At.3:21). 

Foi deste modo – interpretação espiritual e alegórica – que também entenderam os Pais da Igreja. Agostinho declarou que a afirmação de Jesus sobre comer a sua carne e beber o seu sangue era uma "expressão simbólica"[1]. Tertuliano afirmou que era "uma figuração"[2], Virgílio disse que a carne de Jesus "seguramente não está na terra"[3], e João Crisóstomo assinalou que "a natureza do pão continua nele"[4]. 

O papa Gelásio I também disse que "o pão e o vinho permanecem na substância de pão e vinho"[5], Teodoreto declarou que "não abandonam a sua natureza após a consagração"[6], Clemente de Alexandria afirmou que as declarações de Cristo sobre comer seu corpo eram "claramente uma metáfora"[7], e Orígenes confirmou que "tudo acerca do corpo é típico e simbólico"[8]. 

Diante de tantas provas, é muito mais coerente crer nas declarações Escriturísticas e nas afirmações dos Pais, de que o pão era o corpo de Cristo em sentido espiritual e simbólico, do que tomarmos como literal e tornarmos a Ceia em um puro ato de canibalismo, conforme o Concílio de Trento diz, comendo literalmente "o corpo e sangue juntamente com a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus"[9]. 

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VII - Intercessão dos Santos 

Contra a Escritura Sagrada, os católicos creem na intercessão dos santos que já faleceram. Porém, a verdade bíblica é outra. Que os que já morreram não podem mais interceder, isso fica claro por várias razões. Primeiro, porque "Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece"(Is.63:13). Se Abraão e Israel (Jacó) fossem intercessores do povo israelita, eles certamente teriam conhecimento de Israel.  

Em segundo, porque a Bíblia diz claramente que "os mortos não sabem de coisa alguma"(Ec.9:5). Se eles não sabem de "coisa alguma", então eles não sabem do que acontece entre os vivos para terem condições necessárias de intercederem por eles. Em terceiro, é nos dito que "noalém [Sheol] não há conhecimento algum" (Ec.9:10). Se não há conhecimento, não há como os que já morreram conhecerem os vivos (e os pedidos de cada um deles) para realizarem a sua suposta tarefa de intercessão. Como iriam interceder por algo que não tem conhecimento?  

Em quarto, é nos dito que os mortos não louvam a Deus (Is.38:18,19; Sl.6:5; Sl.115:17,18), e que isso somente os viventes fazem (Is.38:18,19). Se os mortos pudessem interceder pelos vivos, então eles certamente também poderiam louvar ao Senhor. Mas não podem. 

Em quinto, é nos dito que na morte não há lembrança de Deus (Sl.6:5). Se os mortos tivessem consciência dos vivos, certamente teriam consciência de Deus. Porém, se nem sequer se lembram do próprio Criador, como é que vão se lembrar de cada um de seus milhares de devotos? Em sexto, deve-se ressaltar que, no ato de morrer, "perecem os pensamentos" (Sl.146:4). Se o processo de pensamento cessa na morte, então não há como acreditar que os que já morreram continuam raciocinando para interceder pelos vivos. 

Em sétimo, é nos dito de maneira clara que “Davi não subiu aos céus” (At.2:34), numa evidente refutação àqueles que pensam que os que já morreram estão no Céu intercedendo por nós. Uma análise criteriosa dos textos bíblicos poderia nos revelar outros quinhentos pontos que refutam em cheio o Catolicismo. Mas deixemos apenas estes por enquanto. 

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VIII - Maria é Co-Redentora 

Não há qualquer indício de que Maria tenha sido co-redentora do gênero humano, seja lá em que sentido que for. Ao contrário, é nos dito de forma clara e categórica que apenas um único homem fez este papel de mediação entre Deus e os homens: Jesus Cristo – "pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus" (1Tm.2:5).  

Além disso, enquanto Maria nem ao menos aparece nas epístolas apostólicas doutrinárias, Jesus é relatado como sendo o único e suficiente salvador (redentor), e não há nenhum outro além dele: "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At.4:12).  

Colocar Maria como co-redentora, seja lá em que sentido que for tomado, é uma blasfêmia e uma ofensa a Cristo. Além disso, é fazer dela uma deusa, pois Deus diz que não há outro salvador além dEle: "Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador" (Is.43:11). Se não há outro salvador (ou "redentor") além de Deus, e se Maria é mesmo "co-redentora", então estão fazendo dela uma deusa, dividindo o lugar com Deus.

Além disso, formular argumentos com base no fato de que Maria gerou Jesus e que, por isso, seria co-redentora do gênero humano, é uma falácia circular, visto que, por este mesmo prisma, deveríamos considerar também como redentora a mãe de Maria, pois sem esta não surgiria Maria, e sem esta não surgiria Jesus. E teríamos que (usando a mesma lógica) conceder o mesmo a avó de Maria, a bisavó, a tataravó, e assim por diante. Portanto, é um argumento completamente medíocre. 

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IX - O Cânon Bíblico é de 73 livros 

Este é um argumento que tem por base dois sínodos locais realizados no norte da África, em Hipona e Cartago, no final do século IV. Para o nosso lado, temos a autoridade judaica (responsável pelos "oráculos de Deus" no AT – Rm.3:2), temos a unanimidade dos Pais da Igreja que rejeitavam os apócrifos, e a maior parte dos Doutores da Igreja Romana ao longo dos séculos, até o Concílio de Trento. Rufino afirmou que os livros apócrifos aceitos pelos católicos "não são canônicos, mas eclesiásticos"[10], e que por isso "no máximo são lidos na igreja, mas não são tidos como autoridade por onde se possa firmar coisas da fé"[11].  

Os Pais da Igreja, em unanimidade, seguiram este mesmo caminho. Jerônimo, o famoso tradutor da Vulgata, afirmou que "a igreja lê Judite, Tobias e Macabeus (no culto público), mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros [Sabedoria e Eclesiástico] úteis para a edificação do povo, mas não para estabelecer as doutrinas da Igreja"[12]. Ele diz claramente que tais livros "não tem autoridade para confirmação de doutrina"[13], pois "não são escritos por pessoas fidedignas nem são de doutrina segura"[14]. 

João Damasceno foi objetivo em dizer que tais livros "são nobres e virtuosos, mas não são contados e nem foram admitidos no cânon"[15]. O Concílio de Laodiceia rejeitou tais livros[16], e Rufino nos disse que estes livros "podem ser lidos nas igrejas, mas não recorridos para a confirmação de doutrina"[17].  

Atanásio declarou que tais livros "não são canônicos"[18], que "somente se lê na Igreja"[19], sendo "meramente para a leitura"[20]. Hilário é outro que lista o cânon de 22 livros, e em seguida diz que "alguns querem acrescentar Tobias e Judite, mas o outro parecer está mais conforme a tradição"[21]. Epifânio classificou tais livros como "duvidosos", e por isso "não estão admitidos no número dos aceitos"[22].  

Tendo em vista o testemunho esmagador de que tais livros não fazem parte do cânon, e as declarações dos próprios livros apócrifos se reconhecendo como não inspirados (como em 2ª Macabeus 15:38, onde o autor do livro admite que a sua obra estaria possivelmente "vulgar e medíocre"), fica claro que o caminho mais seguro e confiável  é ficar somente com aquilo que é confiadamente Sagrada Escritura, confirmada através dos séculos tanto pelos judeus quanto pelos cristãos. 

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X - O livre exame é condenado 

Devemos examinar livremente a Bíblia por vários motivos. Em primeiro lugar, porque o próprio Jesus nos admoestou a examinarmos as Escrituras (Jo.5:39). Em segundo, porque ele disse que "quem lê, entenda"(Mc.13:14), e não para pedir a "interpretação oficial" de um magistério romano. Em terceiro, porque Neemias nos diz que todos os que escutavam as palavras da lei podiam entendê-la (Ne.8:3).  

Em quarto, porque João afirma que nós não temos necessidade de que alguém nos ensine, porque a unção que recebemos de Deus nos ensina a respeito de todas as coisas (1Jo.2:27). Se não precisamos que ninguém nos imponha algo, então descartamos as recomendações antibíblicas do magistério romano, e ficamos muito bem sem elas, obrigado.  

Em quinto, Paulo afirma que Timóteo desde a infância "sabia" (ou "entendia", "examinava") as Sagradas Letras (2Tm.3:15), mesmo sem fazer parte do magistério católico-romano. Em sexto, porque o próprio Paulo disse que, "quando ledes, podeis entender" (Ef.3:4). Se nós entendemos aquilo que lemos, não precisamos nos sujeitar à servidão de um magistério romano, para que possamos entender algo que Paulo diz que nós já entendemos.  

Em sétimo, porque Lucas elogia o fato de que os bereanos "examinavam diariamente nas Escrituras, para ver se o que Paulo dizia era assim mesmo"(At.17:11). Infelizmente este ato nobre acabou virando exclusivamente dos evangélicos, porque os católicos tiveram cortado o seu livre arbítrio (livre exame) e estão obrigados a repetirem com o papa cada discurso de Roma, independentemente de estar ou não nas Escrituras. 

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Em breve, mais heresias católicas refutadas. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo. 

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)



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-Notas e referências bibliográficas: 

[1] A Doutrina Cristã, Livro III – Sobre as dificuldades a serem dissipadas nas Escrituras, Cap.24. 

[2] Tertuliano, Contra Marcião IV, 40. 

[3] Vigílio, Cont. Eutich. Liv. IV. 

[4] Crisóstomo, Epístola a Cesário. 

[5] Gelásio, Das duas naturezas. 

[6] Teodoreto, Dialogus, Liber II. 

[7] O Pedagogo, 1:6. 

[8] Comentário sobre Mateus 15.10-20. 

[9] Concílio de Trento, Cânones Sobre a Santíssima Eucaristia. 

[10] NPNF2 3:558; Rufino, sive Cyp. in Explic. Symboli. 

[11] ibid. 

[12] Prefácio dos Livros de Salomão. 

[13] ibid. 

[14] Introdução Geral a Vulgata Latina, p.9. 

[15] An Exposition of the Orthodox Faith, Livro IV, Cap.17. 

[16] Cânon 60 do Concílio de Laodiceia. 

[17] NPNF2, Vol. 3, Rufino, Comentário ao Credo dos Apóstolos 36. 

[18] Athanas. in Synopsis, et in Lit. Festiv. – Dupin, t. 1. Pag. 180. 

[19] ibid. 

[20] Epístola 39, Cap.7. 

[21] Hilario in Prolog. Psal. explanat. Veronae 1730. 

[22] Epiphan. adv. Haeres. pags. 18, 19. Colon. 1682, et Epip.

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